Por Isick Kaue
A luta por uma transformação radical da nossa sociedade passa por táticas que se chocam com o ideário da “ética” burguesa. No filme “The Edukators”, por mais romântico que este possa parecer, essa questão é pronunciada pelo personagem “Peter”, quando os outros dois - Jule e Jan – passam a questionar as práticas que estavam adotando para por em xeque o “status quo” e o “poder econômico”, tendo em vista que entravam de forma sorrateira em mansões, mudando a ordem da mobília e deixando mensagens pintadas nos muros internos, como “seus dias de fortuna acabaram”, o que, sob o olhar da referida perspectiva de ética, é deveras condenável, pois ocorrem invasões de propriedades particulares – os templos sagrados do capitalismo. Se quisermos pensar em um exemplo cotidiano do nosso país, podemos visualizar as ocupações de terra feitas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais Sem Terra). Bem distintas das citadas no exemplo do filme, apesar de também desafiarem os poderes estabelecidos, as ocupações realizadas por este movimento em propriedades privadas visam à desapropriação de latifúndios para fins de reforma agrária, estando esta inexoravelmente atrelada ao sonho da justiça social. Dessa forma, deveríamos pensar que são ilegítimas essas ocupações que o MST realiza e tratá-las, como a Grande Imprensa (Veja, Globo, Folha de São Paulo, e outras cositas más) o faz, enquanto “invasões”, quase remetendo aos bárbaros que tomaram a cidade de Roma no ocaso do Império, que ferem a “ordem” e os “bons costumes”? Para nós da atual gestão do Centro Acadêmico de História CALDEIRÃO tratam-se de ocupações legítimas, carregadas de uma intencionalidade positiva, em que vibram as utopias de um outro mundo possível. Não obstante, os dois exemplos foram acima versados para tecer um elogio à desobediência civil, elogio à postura que questiona e almeja subverter a lógica nefasta da sociedade em que vivemos, utilizando-se, para tanto, dos recursos que se nos apresentam disponíveis para dialogar com o conjunto da sociedade: o MST realiza ocupações de Terra, constrói o seu próprio veículo de comunicação (um jornal), já que a Grande Imprensa tenta vilipendiá-lo, ou ocupa prédios públicos, quando reivindica algo diretamente ao governo; e nós, do movimento estudantil, quais formas possuímos para dialogar com o conjunto dos estudantes, apresentando as problemáticas da universidade, da educação e, de forma mais ampla, do povo brasileiro? No caso do Movimento Estudantil de história da UECE, desenvolvemos um jornal, que é distribuído para os e as estudantes do curso, utilizamos também um blog (http://www.caldeirao.org/); porém, acreditamos que estes dois não dão conta de propagandear nossas bandeiras para todos os e todas as estudantes da UECE, então adotamos também as táticas do Muralismo, aonde várias pessoas em conjunto pintam/grafitam um muro da universidade abordando uma questão relativa à realidade ueceana, e da pintura de faixas e cartazes durante oficinas, sendo esta última mais comum nas vésperas de atos. Vale salientar que, por vezes, mesmo tomando diversos cuidados, sobram alguns vestígios dessas atividades, como um pouco de tinta (spray ou convencional) cair no chão, levando algumas pessoas a entender que se trata de “depredar o patrimônio público”, inclusive considerando o caráter “ilegal” dessas atividades: sobre a questão da legalidade, que, nesse caso, não nos é muito cara, podemos retrucar que ilegal é o governo do estado permitir que as três universidades estaduais (UECE, URCA, UEVA) funcionem com um déficit de mais 600 professores efetivos; quanto à legitimidade, que para nós é o central, por tudo que já foi dito anteriormente, temos convicção de que estamos lutando no lado certo da trincheira.
da universidade estadual do ceará (uece)
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